sábado, 7 de novembro de 2009

Variar textos: a melhor receita para formar leitores








Algumas atividades simples, aplicadas já nas primeiras séries, ajudam as crianças a interpretar textos de todas as disciplinas

Formar leitores é uma tarefa que começa cedo e deve continuar sempre. Na edição passada, ESCOLA já mostrou (na reportagem "Bons leitores são bons alunos em qualquer disciplina") que o desenvolvimento da leitura e da escrita não pode ser feito apenas pelo professor de Língua Portuguesa. A tarefa é responsabilidade de todas as áreas, porque cada uma tem textos com características específicas. Mas como deve agir o professor de 1ª a 4ª série, que leciona todas as matérias? E o especialista, que apresenta aos alunos os textos mais específicos de cada área? A recomendação é a mesma para os dois: colocar a garotada em contato com diferentes tipos de texto. Quanto mais cedo a turma começa a conviver com uma variedade de estilos, gêneros e assuntos, mais autonomia de leitura ganha. Por isso, não é necessário esperar a 5ªsérie, quando a garotada vai ter vários professores, para desenvolver em classe atividades de leitura com textos científicos, por exemplo.




Alunos podem enfrentar textos considerados difíceis







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Uma criança tem autonomia de leitura quando enfrenta - e não contorna - as dificuldades naturais de compreensão diante de um texto. "O pior que o professor pode fazer quando a classe considera uma leitura complicada é deixá-la de lado e tentar resolver o assunto na base da saliva e do giz", diz Maria José Nóbrega, consultora de língua portuguesa, de São Paulo. "Fazendo isso, ele constrói uma armadilha, porque só aprofunda as barreiras que o aluno já tem."

Se os estudantes não entendem um texto, o professor pode lê-lo com eles, esclarecer as dúvidas e mostrar como fazer relações que permitam a compreensão. Se, mesmo assim, a classe achar complicado, não há problema em recorrer a um texto mais simples. "Ele vai funcionar como trampolim para leituras mais complexas", diz Maria José.

E o texto que a turma achou difícil? Ele deve ser retomado mais adiante. É preciso "forçar" um pouco para que o estudante se acostume a diferentes modos de escrever e até goste dessas novidades. Maria José cita as três principais estratégias para ajudar a compreender bem um texto: localizar informações, estabelecer relações (entre diferentes trechos do texto, por exemplo) e fazer inferências (como deduzir o sentido de palavras desconhecidas e destacar ironias ou pressuposições do autor).

O que é preciso para desenvolver a leitura




Como trabalhar a compreensão de textos específicos de cada disciplina com uma classe que não tem familiaridade com o vocabulário e os conceitos da área? Primeiro é preciso saber até que ponto os alunos dominam um texto sozinhos. É importante avaliar ainda o que eles já sabem sobre o tema.

Terminado esse trabalho de observação, você está pronto para conversar com a classe sobre as expectativas em relação ao trabalho de leitura. A turma deve saber previamente o objetivo do texto - se pretende entreter, informar, descrever etc. Isso é fundamental para facilitar a compreensão. Uma recomendação valiosa para as crianças: avaliar sempre se estão acompanhando o texto ou perderam o fio da meada. Maria José faz um último alerta: não há uma única interpretação. "O professor não pode esperar que os alunos compreendam o mesmo que ele. A turma deve aprender a tirar as próprias conclusões."

Escola começa leitura de Ciências na 2ª série




Na Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental Embaixador Assis Chateaubriand, em Osasco (SP), ligada à Fundação Bradesco, os professores desenvolvem um projeto com muita troca de informação para aperfeiçoar a leitura nas turmas de 2ª a 4ª série. Já na 2ª série começa o contato com textos de divulgação científica, tirados (e, se necessário, adaptados) de revistas, livros ou enciclopédias. Após a leitura, alguns esclarecimentos e discussões, os estudantes preenchem esquemas montados pelos professores em que identificam o assunto principal do texto e o modo como ele é organizado.

Esses esquemas se tornam mais complexos nas séries seguintes. Aos poucos, a esquematização do texto vai ficando por conta dos próprios estudantes, que passam a definir o tema principal e seus desdobramentos.

Finalmente na 4ª série, os resumos são trabalhados. "Os alunos usam para isso a experiência da esquematização - não para resumir o texto por partes, mas para compreender sua lógica e reescrevê-lo de modo sintético", explica Sílvia Juhas, supervisora pedagógica da Fundação Bradesco.

Durante as três séries, o professor sugere e acompanha procedimentos de leitura, como sublinhar o texto e fazer anotações nas margens. "Vamos discutindo hábitos de estudo", diz a professora Ivani Ferreira de Oliveira, da 3ª série. Ela ajuda os alunos a construir os esquemas, organizar bancos de palavras que antes desconheciam e fazer pesquisas. Depois, pede para eles pesquisarem outros meios de compreender um texto, como elaborar perguntas e organizar esquemas, e incentiva cada um a escolher os que prefere. A resposta vem rapidamente: já no segundo bimestre, a turma produz os primeiros artigos sobre ciência.




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CONTATOS




Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental Embaixador Assis Chateaubriand (Fundação Bradesco), Cidade de Deus, s/n, 06029-900, Osasco, SP, tel. (11) 3684-5172

BIBLIOGRAFIA




Escola, Leitura e Produção de Textos, Ana Maria Kaufman e Maria Elena Rodriguez, 180 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-7033444, 38 reais

Estratégias de Leitura, Isabel Solé, 194 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 42 reais

Leitura: Ensino e Pesquisa, Angela Kleiman, 216 págs., Ed. Pontes, tel. (19) 3252-6011, 45 reais




Fonte - Nova Escola





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