domingo, 6 de setembro de 2009

Comparando diferentes versões ( exemplo ) de Chapeuzinho Vermelho ( part II )


A leitura pelo professor


Quando o professor lê para as crianças, mostra-lhes seu próprio comportamento leitor e contribui para que se familiarizem com o universo letrado. Por isso, é fundamental que ele prepare sua leitura ensaiando em voz alta, planejando intervenções para fazer antes, durante ou depois da leitura, antecipando a organização do espaço e a disposição das crianças, e, ainda, determinando o momento estratégico em que interromperá a leitura (para continuar num momento seguinte). Ao trazer um material para ler para a classe, o professor também cuida da apresentação adequada do livro, oferece informações que servem para contextualizar a obra e despertar o interesse em conhecê-la e justifica a escolha feita. Durante a leitura, ao fazer uma interrupção, o professor pode retomar os fatos anteriores para que as crianças não percam a seqüência narrativa. Pode-se solicitar a elas que procurem se lembrar dos últimos acontecimentos e os relatem de forma organizada. Cada uma conta aos colegas sua lembrança e, assim, o grupo vai reconstruindo a narrativa que acabou de conhecer. O professor ajuda, recontando passagens. Quando surgirem dúvidas sobre algum episódio, pode-se recorrer ao livro para esclarecê-las por meio da leitura do trecho a que se referem. O professor compartilha com as crianças seu comportamento leitor (explicitando diferentes aspectos do que faz enquanto lê). Por exemplo, nas duas primeiras versões, dois procedimentos usuais, próprios de leitores experientes, poderão ser destacados: o uso do índice e do marcador de livro, já que os contos selecionados fazem parte de uma coletânea. É preciso também assegurar um espaço para que a turma se manifeste a respeito do texto lido, dialogue com ele, dando-lhe, coletivamente, um sentido. Isso pode ser feito por meio de uma conversa em que cada ouvinte compartilha com os demais aquilo que desejar: as lembranças; os sentimentos e experiências suscitadas durante a leitura; os trechos mais marcantes; uma característica do texto que tenha reparado; uma dúvida ocorrida; uma hipótese confirmada ou não durante a leitura, etc. O professor se coloca como participante ativo da conversa, compartilhando suas impressões sobre o que leu, sobre relações com outros textos conhecidos pelo grupo ou com outros fatos. Ao ouvir as opiniões das crianças, o professor possivelmente irá deparar com diferentes interpretações do que foi lido. Isso deve ser respeitado, porque, nesse caso, não há respostas corretas ou incorretas. Como todos os textos literários, a história de Chapeuzinho Vermelho permite ao leitor criar algumas interpretações enquanto lê. Nessas conversas com as crianças, o professor pode ter como foco aspectos retóricos do texto. Prestando atenção neles, o grupo poderá perceber que, por meio da forma pela qual os acontecimentos são narrados, o autor direciona a interpretação sobre determinadas passagens. Por exemplo: pode-se perguntar às crianças se elas acham que o lobo está tentando enganar Chapeuzinho, e chamar a atenção para a forma como o autor descreve suas falas e intenções. É importante salientar que mesmo que o conto trate de questões ligadas à moralidade, não é aconselhável utilizar sua leitura como um pretexto para oferecer às crianças lições de moral, nem tampouco para impor a opinião do professor sobre, por exemplo, as atitudes da personagem principal. O foco desta atividade é voltar-se para o texto em si, para que as crianças possam se aproximar da linguagem escrita e desenvolvam comportamentos de leitor.

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